UPA de Costa Barros segue fechada uma semana após invasão: 'Estamos sendo massacrados'

Moradores da região relatam ter procurado unidades mais distantes para conseguir atendimento

07/10/2025 | Por: O DIA

UPA de Costa Barros segue fechada uma semana após invasão: 'Estamos sendo massacrados'

Divulgação

Rio - A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Costa Barros, na Zona Norte do Rio, permanece fechada, nesta terça-feira (7), uma semana após uma invasão de criminosos. No último dia 30, bandidos armados entraram no local, sequestraram uma ambulância, agrediram pacientes e ameaçaram funcionários. Desde então, a Polícia Militar vem reforçando o policiamento, mas as atividades ainda não foram retomadas.
A UPA fica próxima aos Complexos do Chapadão e da Pedreira, que enfrenta uma disputa entre o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando Puro (TCP) pelo controle das comunidades. No ataque à unidade há uma semana, os criminosos estariam procurando por baleados em um confronto de facções. Dois pacientes chegaram a ser agredidos e levados pelos bandidos, mas liberados em seguida. Os profissionais também sofreram intimidações e haviam 11 pessoas internadas no momento da invasão. 
Por conta da ação dos bandidos, a PM tem mantido o policiamento intensificado na região, com equipes do Comando de Operações Especiais (COE) e do 41º BPM (Irajá). Além disso, a corporação vem realizando operações nas comunidades, para coibir a atuação do tráfico de drogas, como a que acontece nesta terça-feira, no Complexo da Pedreira, controlado pelo TCP. Até o momento, dois suspeitos foram presos na comunidade do Para-Pedro e duas pistolas apreendidas com eles. 
Na semana passada, o Chapadão, dominado pelo CV, também foi alvo dos militares por dois dias consecutivos. Apesar do reforço no policiamento, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) diz que aguarda a ocupação das forças policiais de forma permanente e a prisão dos criminosos que invadiram a UPA para retomar os atendimentos. Segundo a pasta, "muitos profissionais de saúde, devido ao pânico, já solicitaram transferência, suporte psiquiátrico e psicológico".
Em meio ao impasse entre a PM e a SMS, pacientes da região sofrem com a falta de atendimento. Moradora da comunidade do Quitanda, no Complexo da Pedreira, Mirela Sousa conta que na última sexta-feira (3) procurou a unidade para a filha de 12 anos, que não conseguia andar por conta de dores no corpo, mas encontrou as portas fechadas. A corretora de imóveis precisou da ajuda de um amigo para seguir com a menina até a UPA de Rocha Miranda. 
"Um absurdo, estamos sem atendimento. Sexta minha filha estava bem debilitada, sem poder andar, devido à dores no corpo, e como ela tem 12 anos já não posso mais levar no colo, então tive que pedir um amigo que é motorista de aplicativo para me trazer (para a UPA de Rocha Miranda) e nos levar para casa, onde chegamos já era 0h28 em casa. Com a UPA funcionando seria bem melhor, eu iria ia ser atendida e logo estaria em casa com ela", lamentou Mirela. "(É um sentimento) de revolta, porque está na constituição que temos direito à saúde, coisa que não estamos tendo o básico". 
A cuidadora de idosos Thainá Cristina, que mora na mesma comunidade, também precisou de atendimento devido uma intoxicação alimentar. "Eu trabalho fora tomando conta de idosos, então não tenho muito acesso à celular e televisão, mas na sexta precisei de atendimento, fui para a UPA, que é próxima da minha casa, e para minha surpresa estava fechada", relatou. Ela diz ainda que um posto de saúde que funciona no mesmo espaço está fechado desde que as atividades foram interrompidas e não tem conseguido pegar os medicamentos para hipertensão.
"A gente que é morador de comunidade já sofre pelo tráfico imposto pelos bandidos, pelas incursões da polícia, que fecham nossas escolas e atrapalham nosso direito de ir e vir, sofremos discriminação. E agora não temos nem o direito a saúde, não temos mais direito aos medicamentos. Tive que comprar o medicamento, tive consulta cancelada. Minha sobrinha teve consulta de pré-natal cancelada, sem nenhum redirecionamento. Meu sobrinho teve uma crise de asma na madrugada e onde achar socorro? Tivemos que nos desdobrar e a gente mora atrás da UPA. É um descaso, estamos abandonados". 
Um grupo chegou a realizar uma manifestação pedindo a reabertura em frente à unidade na semana passada. Para a líder comunitária do Quitanda, Elaine Oliveira, que foi funcionária da UPA durante 13 anos, os moradores não podem ser afetados pelas ações de bandidos. Ela pede que os órgãos entrem em um acordo para que os serviços sejam restabelecidos à população. 
"Nós estamos sendo massacrados por uma culpa que não é nossa. A gente precisa do atendimento, o posto está fechado, a UPA fechada há uma semana, os moradores não estão aguentando. Essa UPA é de suma importância para a nossa população (...) A UPA é um direito nosso, saúde é direito, a gente paga imposto, é lei a gente ter a UPA aberta. A gente pede pelo amor de Deus para eles entrarem em uma concordância e abrir a nossa unidade, porque o povo está sofrendo. A gente não tem culpa do que a minoria faz, a população na pode perecer". 
reportagem do DIA tem questionado, desde a última sexta-feira (3), se a Secretaria Municipal de Saúde do Rio e a Polícia Militar irão debater medidas contra a insegurança na região e para que a unidade retome os atendimentos aos pacientes. A PM informou, nesta terça-feira, que foi determinada a ocupação por tempo indeterminado em Costa Barros. A corporação afirmou ainda que "a região apresenta grande complexidade, marcada por disputas entre grupos criminosos armados e pela presença de comunidades que demandam atenção constante do Estado".
Ainda de acordo com a Polícia Militar, a corporação "mantém esforços permanentes de policiamento e ações de proximidade, com o objetivo de proteger vidas, restabelecer a ordem e ampliar a sensação de segurança da população" e reforçou que "permanece aberta ao diálogo e seguirá atuando de forma integrada e contínua para garantir mais tranquilidade aos moradores de Costa Barros e áreas vizinhas". A SMS ainda não se pronunciou e o espaço está aberto para manifestação. 

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