Rio - Aos 35 anos, Iza dá um importante passo na trajetória musical com o lançamento das músicas "Caos e Sal" e "Tão Bonito", disponíveis nas plataformas digitais. Com faixas que marcam a entrada da cantora no universo do reggae, o projeto chega acompanhado de visualizers (visualizador de áudio) que mesclam gráficos e uma estética envolvente, explorando a união de influências do Antigo Egito, da Etiópia e do Maranhão.
O mergulho no gênero musical não surgiu por acaso, mas de uma necessidade genuína de se expressar. "Quando eu lanço algo, é porque eu não consigo pensar em outra coisa. Então, sendo muito direta, acho que eu não consigo me imaginar cantando outra coisa nesse momento. Não é definitivo, não é um rótulo, só é o que eu tenho mais amado agora", explica a cantora.
Para Iza, o reggae se apresenta como uma plataforma democrática e aberta a diversas influências, o que torna essa transição ainda mais orgânica. "Eu consigo enxergar R&B, Soul, até um pouco de rap e gospel nesse estilo. Acho também que nesse momento é como eu me sinto, é um estilo que convoca a gente para o presente, que provoca, critica e que faz com que a gente pense", afirma ela, que completa. "Fico feliz por ser um estilo musical que está presente na minha vida desde sempre. Eu me sinto confortável cantando reggae no palco".
A canção "Caos e Sal" estava guardada há cerca de cinco anos e carrega uma simbologia profunda, que reflete a conexão da artista com o gênero. A música foi apresentada ao público pela primeira vez durante o festival The Town, em São Paulo. "Ela é muito importante para mim, e antes o nome dela era 'Pique da Vida'. Depois que ela chegou para mim, fui acrescentando coisas e ganhou outro significado. Acho que essa música tem tudo a ver com aquilo que eu enxergo do reggae", diz a cantora.
Iza também revisitou influências e momentos da carreira para o lançamento dos novos singles. Faixas como "Pesadão" e "Ginga" têm uma relação direta com o som atual. "Acho que elas têm tudo a ver com esse som de agora, 'Pesadão' por conta dessa sonoridade reggae e 'Ginga' por conta dessa questão esotérica e mística", avalia.
A cantora, então, comenta que o reggae possui diversas vertentes e influencia muitos outros estilos musicais, como o samba-reggae, que tem forte presença na Bahia. "Acredito que em nenhum outro lugar do mundo o reggae seja tocado da forma como é pelo nosso Olodum. Eu tenho várias referências de reggae no Brasil como Cidade Negra, Skank, Paralamas do Sucesso com algumas músicas, o próprio O Rappa e o Charlie Brown Jr. Consigo enxergá-lo em muitas dessas referências, mas tem muitas outras que não são óbvias e que me moldaram ao longo da vida".
Nos trabalhos dela, a crítica social e a poesia também estão presentes. De acordo com Iza, é possível compreender o contexto socioeconômico do país através da música, e os artistas têm um papel fundamental nesse processo. "Não é planejado, mas a partir do momento que a crítica social está ali, eu tento falar da forma mais consciente possível. Também acho que a partir do momento que você fala das coisas com carinho, amor, sabedoria e com arte, fica mais fácil de você penetrar o coração das pessoas", destaca.
Mãe de Nala, de 11 meses, fruto do relacionamento com Yuri Lima, a cantora compartilha como a maternidade influenciou sua visão artística. "Eu trabalhei muito durante a gravidez e me senti muito criativa. Eu estava produzindo o tempo inteiro", recorda.
Ancestralidade e moda
A nova fase musical de Iza resgata a conexão com o Kemet, nome original do Antigo Egito que significa "terra preta", como berço de tecnologia e sabedoria de um povo preto que moldou a civilização humana. Através dessa ancestralidade, ela celebra a importância das raízes africanas e das cores e imagens que refletem sua conexão com esse universo.
"Sei que quando comecei a conceber esse projeto, eu sabia que queria essas cores. Eu pensei em pôr do sol e foi daí que veio o laranja. Pensei na beleza, na maquiagem, nas joias e veio esse azul egípcio. Me encantei muito com Bastet, que era deusa da fertilidade, e ela é uma imagem toda preta. Então, me pintei de preto em determinado momento...Acho que as cores que eu trouxe tinham que fazer sentido com essa história", opina.
Já os elementos visuais de "Caos e Sal" e Tão Bonito" dialogam com a evolução artística dela. "Existem algumas fotos que são até praticamente iguais, só que com figurinos diferentes".
O estilo, inclusive, é uma forma de expressão importante para Iza. Ela enxerga a moda como uma extensão de sua arte. "Sempre digo que a minha mensagem é melhor entendida quando eu consigo alinhar todos esses pontos. Então, a moda é um ponto muito especial de provocação, persuasão e criação. É um braço muito importante do meu trabalho".
A cantora não esconde o desejo de expandir sua conexão com o universo da moda. "Eu tenho muita vontade de ter uma marca. Já fiz colaborações com algumas marcas, mas eu tenho vontade de ter a minha voltada para Streetwear [urbano], mas ainda é uma coisa muito embrionária e eu gosto de fazer as coisas direito e ao mesmo tempo eu estou fazendo um monte de coisa ao mesmo tempo", conclui, aos risos.