De acordo com a denúncia, os acusados mantinham vínculos estáveis com o Comando Vermelho, atuando nos Complexos da Maré, do Alemão e na comunidade de Parada de Lucas, todos na Zona Norte. O grupo é acusado de intermediar a compra e venda de drogas, armas e equipamentos antidrones utilizados para dificultar operações policiais nos territórios ocupados pela facção.
Para o MPRJ, TH Joias usou o seu mandato para favorecer a organização criminosa, inclusive nomeando comparsas para cargos na Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj). Ainda segundo a denúncia, o deputado é acusado de intermediar diretamente o comércio de entorpecentes e de armas, realizando pagamentos a integrantes do CV.
Outro denunciado é apontado como uma das lideranças da facção, responsável pelo controle financeiro e pela autorização de pagamentos vultosos, incluindo a autorização para a compra dos antidrones.
Um terceiro denunciado exercia a função de tesoureiro, encarregado de armazenar drogas, guardar valores milionários, efetuar pagamentos e intermediar negociações de armas e munições.
Um quarto denunciado atuava como fornecedor de equipamentos especializados à facção, em especial os dispositivos antidrones. Ele também era responsável pelos testes em campo e ensinava outros membros da facção a operá-los. De acordo com a Procuradoria-Geral de Justiça, paralelamente, o acusado ocupava o cargo de assessor parlamentar, indicado pelo deputado, como forma de encobrir as atividades ilícitas.
Ainda segundo a denúncia apresentada à Justiça, a quinta acusada havia sido nomeada para um cargo comissionado na Alerj e sua função era servir de elo entre o grupo e o Legislativo. A assessora contribuía para acobertar o papel desempenhado pelo tesoureiro, com quem é casada.
Questionada, Alerj informou que tomou conhecimento nesta quarta da expedição de mandados de busca e apreensão em face do deputado, cumpridos em seu gabinete. A Casa informou que as diligências foram acompanhadas pela Procuradoria Legislativa, que prestou apoio às autoridades competentes.
Em nota, o deputado Rosenverg Reis, primeiro secretário da Alerj, líder do MDB na Casa e primeiro secretário da executiva do MDB-RJ, ratificou a expulsão imediata de TH Joias do partido por condutas incompatíveis para o exercício de função pública.
A liderança enfatizou ainda que o deputado já não seguia as orientações do partido em votações na Alerj e que deve responder à Justiça por seus atos fora da Casa.
"A liderança não compactua com ilegalidades, repudia conduta criminosa, e confia na Justiça", disse Reis.
A reportagem tenta localizar a defesa de Thiego. Segundo sua assessoria, não haverá posicionamento no momento por orientação jurídica.
Operação Zargun
A Polícia Federal também realizou, nesta quarta-feira (3), a Operação Zargun, com objetivo de desarticular uma organização ligada à cúpula do Comando Vermelho, especializada no tráfico internacional de armas e drogas, corrupção de agentes públicos e lavagem de capitais. O deputado estadual também foi alvo dessa ação.
Segundo a PF, as investigações identificaram um esquema de corrupção envolvendo a liderança do CV no Complexo do Alemão e agentes políticos e públicos, incluindo um delegado da PF, policiais militares, um ex-secretário municipal e estadual e o deputado estadual.
Ainda de acordo com a PF, a organização infiltrava-se na administração pública para garantir impunidade e acesso a informações sigilosas, além de importar armas do Paraguai e equipamentos antidrone da China, revendidos até para facções rivais.
O Tribunal Regional Federal da 2ª Região determinou o sequestro de bens e valores dos investigados, totalizando R$ 40 milhões, além do afastamento de agentes públicos, suspensão de atividades de empresas utilizadas para lavagem de dinheiro e transferência emergencial de lideranças da facção para presídios federais de segurança máxima.
Os investigados poderão responder pelos crimes de organização criminosa, tráfico internacional de armas e drogas, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.